quarta-feira, 7 de maio de 2014

Covilhã - Memoralistas ou Monografistas VIII


         Continuamos hoje a publicar os monografistas da Covilhã, começando com algumas reflexões de Luiz Fernando Carvalho Dias já publicadas neste blogue.
        
“Convém enumerar os autores de monografias da Covilhã, os cabouqueiros da história local, aqueles de quem mais ou menos recebi o encargo de continuá-la, render-lhes homenagem pelo que registaram para o futuro, dos altos e baixos da Covilhã, das suas origens, das horas de glória e das lágrimas, dos feitos heróicos e de generosidade e até das misérias dos seus filhos, de tudo aquilo que constitui hoje o escrínio histórico deste organismo vivo que é a cidade, constituído actualmente por todos nós, como ontem foi pelos nossos avós e amanhã será pelos nossos filhos. […]
Para a Academia Real da História, no século XVIII, destinada ao primeiro dicionário do Padre Luís Cardoso, escreveu o prior de São Silvestre, Manuel Cabral de Pina, a monografia mais completa dessa época, que constitui um trabalho sério, no sentido de que é possível hoje referenciar quase todas as suas fontes. O Padre Pina, que frequentou um ano a Universidade de Coimbra, era natural do concelho de Fornos de Algodres e colheu muitos elementos para a sua monografia nas cópias do Arquivo da Torre do Tombo existentes na Câmara e nos livros paroquiais."


Covilhã - Igreja de S. Silvestre
Fotografia de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias
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      Pelas leituras que temos feito podemos concluir que o texto que estamos a apresentar - Monografia de o Padre Manuel Cabral de Pina - não é o original. Trata-se de uma cópia, pois constatámos que ao longo da monografia aparecem, por vezes, frases entre parêntesis e até com letra diferente feitas por alguém que, em época posterior, pretendeu incluir no texto original dados mais recentes. Num dos casos chega-se a datar: "...Esta nota se fez em 1850".
"O original perdeu-se no Terramoto. A cópia que possuo é dos princípios do sé. XIX, mas posterior às invasões Francesas. Cedeu-me um exemplar o Ex.mo Senhor Artur de Moura Quintela... O questionário que lhe serviu de base é diferente daquele que foi enviado aos párocos, depois do Terramoto de 1755." (1)

[...]

Folha do início do 6º capítulo do manuscrito do Padre Pina

6º.

Há nesta vila dois conventos de religiosos. O primeiro é o convento de S. Francis­co da Observância, o qual existiu já no tempo da primeira fundação desta vila, junto da igreja de S. Lázaro, em cujo sítio há hoje um olival, por esta causa chamado Olival de S. Francisco Velho vulgarmente e o declara o Padre Esperança, na Crónica de S. Francisco. Tom. 4º. C. 13. nº. 4. Hoje, na segunda fundação da vila, está situado no fundo dela, para um lado que está para o Norte, em sítio aprazível e tem cêrca de bastante grandeza e muito amena.

No altar mór da igreja, tem uma imagem da Senhora da Conceição, de vestir, que é muito primorosa pela magestade do rosto e se conta que fora dada pelo Infante D. Luis, relatado acima, ao número 1. Há nesta igreja uma irmandade de Nossa Senhora. A esta igreja vão três procissões públicas da vila, uma em dia de Corpo de Deus, outra em dia de Páscoa da Ressurreição, e outra no último dia das ladaínhas de Maio. Nas cabeças do cruzeiro desta igreja foram fabricadas duas capelas de abóbada de cantaria e feitas com primor por D. Izabel de Castro e D. Joana de Castro, ambas irmãs, filhas de D. Rodrigo de Castro, chamado de Monsanto, e de D. Maria Coutinho. A que fundou D. Isabel de Castro que é da parte esquerda, ainda existe no mesmo estado, e tem altar em que se diz missa. Tem dois mausoleus sumptuosos, metidos na parede, os quais ela mandou fazer, um para seu marido D. Fernando de Castro, senhor de Santa Cruz de Riba Tâmega, morto pelos mouros em Arzila; outro para seu filho D. Diogo da Castro, alcaide mór desta vila de Covilhã. Sobre eles ambos está o escudo das armas que são treze arruelas. A outra capela, que fundou D. Joana de Castro, da parte direita do cruzeiro, padeceu tal ruína no teto que hoje está coberta de telha, posta em toscos caibros e as paredes estão já danificadas e mal compostas.

Não existe já o altar em que se dizia missa. Ainda, porem, existem nela dois mausoleus nobres como os da outra capela acima, metidos na parede em arcos, que ela mandou fazer para si um e outro para seu marido João Fernandes Cabral, alcai­de mór de Belmonte e senhor de Azurara na Beira. Tem por cima escudo de armas que são seis arruelas e cinco estrelas. Em outra parede desta capela se fabricou, em lugar alto, uma arca de pedra, não muito grande, sustentada por dois leões, para os ossos de Jorge Cabral, seu filho.

Debaixo do altar desta capela, quando existia, estava um notável santuário o qual por se demolir o altar foi mudado para debaixo do altar da outra capela acima, fundada por D. Isabel de Castro, onde está. O tal santuário é todo inteiro e consta da imagem de Cristo morto, estendida em plano, e, da parte da cabeça, a imagem de um profeta e, da parte dos pés, a imagem de outro profeta, pegando ambos no Senhor. Da parte do altar estão cinco imagens in­clinadas sobre o Senhor, uma é da Senhora, outra do Evangelista e as outras são das três Marias e, sendo todo inteiro, são as imagens grandes. Tudo relata o Padre Esperança.

O segundo convento é de Santo António dos religiosos capuchos. Foi fundado no ano de 1553. Pertence este convento à provincia da Soledade porque, sendo antes uma província de capuchos que era da Piedade, se dividiu em duas, que são uma da Piedade cuja cabeça é em Vila Viçosa, e outra da Soledade, cuja cabeça é na cidade do Porto, e, na tal divisão, ficou este convento pertencendo à província da Soledade. Fica distante desta vila até mil passos, situado em um outeiro, em terras que eram próprias da Igreja de S. João Martir in Collo.

Tem cêrca de bastante grandeza e arvoredo, com três fontes nativas dentro. Esta água se comunica no claustro e à cozinha do convento e ainda, de fora da cerca, lhe vem por canos de pedra uma grande quantidade de água, em pouca distância, que rega a mesma cerca, e por razão destas águas é o convento, no verão, muito aprazível. Há dentro deste convento uma fábrica de bureis para os hábitos dos religiosos, os quais daquí vão para toda a província, por não haver nela outra fábrica deles. Para este efeito se fabricam aqui em cada um ano até quatrocentas arrobas de lã e há nesta fábrica despejos para tudo e tem dentro quatro teares e oficiais necessários de carda. É administrada por um religioso da mesma província que; de presente, é o Padre Frei Caetano de Bemfeita, guardião que foi do convento de Aveiro. Tem este convento um privilégio real para trazer nos coutos da vila os gados que lhe dão de esmola, relatado abaixo ao nº 13.

Tem esta vila um hospital grave, no seu edifício, para curar os enfermos, com capela dentro para dalí se lhes dar o Senhor e para ouvirem missa os convales­centes. Tem duas enfermarias distintas, uma para homens e outra para mulheres.

É administrado pela Casa da Misericórdia a cuja casa está pegado e com ela continuado. Nos tempos muito antigos houve outro hospital, relatado abaixo ao número 7.

Tem esta vila Casa da Misericórdia. Esta Misericórdia principiou em uma irmandade da Senhora da Alâmpada, no ano de 1213, como consta de um compromisso manuscrito e antigo que existe na Casa. Ao depois foi instituída em Misericórdia, em 27 de Junho de 1577, à semelhança da irmandade da Misericórdia de Lisboa e com o mesmo compromisso dela e debaixo da mesma sua invocação da Senhora da Misericórdia. Ao depois, vendo que o tal compromisso necessitava de reforma, se fez outro, reformado em 17 de Maio de 1618. Porem, como ainda lhe faltava a aprovação e protecção real, sendo no ano de 1678 em que era provedor o Visconde de Barbacena Afonso Furtado de Mendonça, se fez outra reforma do compromisso e se alcançou a aprovação e confirmação real. Tudo consta do mesmo compromisso. Tem a Misericórdia uma igreja grave com três altares. O principal em que há dois camarins, em um deles está a imagem do Senhor dos Passos do andor que é primorosa. (Esta imagem, na fugida dos franceses, foi levada para as Cortes, termo desta vila, para um sítio chamado os Caldeirôes e na retirada se tornou a trazer. Esta nota se fez em 1850.) e no outro está a imagem da Senhora da Misericórdia. O colateral da parte direita, com a imagem de S. Miguel, tem um sacrario em que está a notável relíquia abaixo relatada. O colateral da parte esquerda com a imagem do Espírito Santo. Há nesta Casa uma notável cruz para se levar nas procissões e expor à devoção dos fieis que lhe foi dada pelo Exº Senhor Bispo actual João de Mendonça a quem a tinha dado o Papa Clemente 11, em Roma, achando-se lá o dito prelado. Tem a haste dela de comprimento, com o calvário, dez polegadas, e a travessa seis: é composta sobre papelão de pós de ossos de Santos Martires e no meio tem a forma de uma coroa de espinhos dourada da mesma matéria e na ponta do braço direito um dente de S. Celestino, no da esquerda outro de S. Valentim e, no pé, outro de S. Vicente martir. O calvário em que se segura a cruz é guarnecido com diferentes ossos de santos, a saber, S. Próspero, S. Blandício, S. Máximo, Santa Auta, Santa Carina, S. Exuperacia, S. Aurélio, S.Amador, Santa Vitória, S. Blando, S. Nereu, S. Lucido. Santa Clemência, todos mártires. Tudo consta da doação acima do Senhor Bispo a qual existe na Casa. Tem duas irmandades, uma dos Passos e outra do Espírito Santo.


Há nesta vila muitas hermidas. A primeira que mais propriamente se deve chamar oratório é a de Cristo Crucificado, com a denominação de Senhor da Ribeira, por estar sito ao pé da Ribeira da Degoldra, relatada acima ao número 2. Está fora da vila, para o Poente. Em todo o tempo do ano acodem a ela romeiros inumeráveis por causa de muitos prodígios que o Senhor obra e são excessivas as ofertas que se lhe oferecem. São, porem, mais frequentes os romeiros que veem de terras distantes pela Páscoa da Ressurreição, Espírito Santo, Santa Cruz de Maio, S. João Baptista, S. Tiago, Exaltação da Cruz e S. Miguel. Por não ser o dito oratório capaz para nele se celebrar o sacrifício da Missa se lhe tem principiado, pela parte de cima dele, uma capela de bastante grandeza e arquitetura. Está na freguesia de S.João Martir in Collo.

A segunda hermida é a da Senhora do Rosário, sita dentro dos muros da vila, na freguesia de Santa Maria. É de bastante grandeza e bem proporcionada. Tem três altares. Nela, de presente, se não diz missa por falta de fábrica. Não acodem a ela romeiros.

A terceira hermida é a da Senhora do Pé da Cruz, chamada Santa Cruz. Está sita no cimo da vila mas fora dela, para a parte do Norte, em distância de, pouco mais ou menos, sessenta passos. Tem um só altar. Está feita com primor e bem composta. Nesta hermida esteve a relíquia memorável do Santo Lenho, relata­da abaixo, ao número 18, logo, no princípio, quando foi dada pelo Infante D. Luis. Há nesta hermida uma grande irmandade de moços solteiros que nela mandam dizer missa em todos Domingos e dias santos do ano e mandão fazer duas festas em que há muito concurso de povo, uma em dia da Invocação da Cruz, outra em dia do nascimento da Senhora. Nesta hermida se prega o sermão dos Passos do Calvário, na primeira dominga da Quaresma. Fora dos ditos dias de missa e festas não acorrem a ela os fieis.

A quarta hermida é a de S. Sebastião. Está situada, tambem, no cimo da vila mas fora dela, para a parte do Norte, pouco distante da hermida sobredita de Santa Cruz. Esta hermida, no corpo, se acha muito indecente porque não tem forro e está de telha vã,  cuja fábrica é da Camara desta vila. Tem irmandade do mesmo Santo que fabricava a capela mór dela e festeja seu dia, no qual há grande concurso e assiste a Câmara. 

Há, também,  nesta hermida a imagem da Senhora das Neves, em cujo dia há festa e concurso do povo. Há mais as imagens de Santo Amaro e de Santa Luzia em cujos dias há tambem concurso. E fora destes dias se não costuma frequentar a hermida, salvo nos dias santos em que nela se diz missa.

A quinta hermida é a do Senhor Jesus, sita na freguesia de S. Paulo mas está fora da vila, para a parte do Norte. Tem uma irmandade do mesmo Senhor Jesus. Não acodem a ela romeiros.

A sexta hermida é a de S. Lázaro, tambem da freguesia de S. Paulo. Está sita fora da vila, para a parte do Nascente, em distância de mil passos, pouco mais ou menos, e, no sítio onde existia a primeira fundação da Vila. O teto dela se arruinou e tem só as paredes por cuja causa a imagem do Santo foi condusida para a dita igreja de S. Paulo onde existe. A fábrica desta hermida pertence à Camara desta vila por causa das fazendas abaixo declaradas e sobre o reparo dela. Os párocos da dita igreja lhe têm feito vários requeri­mentos sem terem tido efeito. No tempo em que esta hermida estava decente e o Santo nela colocado acudiam alí muitos romeiros, movidos dos milagres que fazia como advogado das moléstias.

Ao pé desta hermida, no tempo da primeira fundação da vila, havia um hospital chamado Gafaria onde se curavam os leprosos e outros enfermos pobres: porque nesse tempo tinha muito rendimento de fazendas para isso deputadas; e, como ele se extinguiu, tomou a Câmara desta vila conta delas e as apropriou e ficou correndo com a fábrica desta hermida. Muitas destas fazendas andam hoje sonegadas, as outras ainda existem e pagam foro à mesma Camara. Em outro tempo havia nesta hermida hermitão apresentado pelo pároco de S.Paulo.

A sétima hermida é da Senhora da Conceição, na freguesia de Santa Marinha. Está fora da vila, para a parte do Nascente, na quinta chamada de Corges de que é senhor Pedro Freire Corte Real, da vila de Castelo Branco, em distância de um quarto de légua. É fabricada pelo mesmo. A ela não acodem romeiros.

A oitava hermida é de S. Miguel. Está sita no fundo da vila e fora dela mas em muito pouca distância, para a parte do Sul. Tem um só altar com a imagem do Santo, orago dela. Esta hermida, no tempo antigo, era igreja paroquial, com paróquia constituída e o seu edifício era maior que hoje porque ainda existe da parte debaixo uma parte da parede do corpo dela com um cunhal e hoje todo o seu edifício é uma pequena capela e sem capela mór. A sua paróquia que, ainda era da primeira fundação da vila, totalmente se extinguiu como outras mais. Hoje se acha reduzida a um benefício simples cuja renda é a que ainda resta da que tinha a igreja e será pouco mais de vinte mil reis e é da colação ordinária. Nela não se diz agora missa nem a ela acodem romeiros. A nona hermida é a de S. Lourenço. Está sita para diante da dita hermida de S. Miguel, em distância de mais de sessenta passos para o Poente e  tambem fora da vila. Também, no tempo antigo, foi igreja paroquial com paróquia constituí­da, cuja paróquia totalmente se extinguiu e era da primeira fundação da vila. A tal hermida tem somente as paredes do corpo mas já não tem capela mór, nem teto, por cuja causa a imagem do Santo, seu orago, foi levada para a igreja paroquial de S. Vicente aonde existe. Está hoje reduzida a benefício simples cuja renda é a que ainda existe da que tinha a igreja e, quando muito, chegará a vinte mil reis e é do padroado da casa de Sebastião Leitão da Cunha, desta vila. Pela dita razão não acodem a ela romeiros.

Por baixo desta hermida, para a parte do Sul, em distância de mais de sessenta passos, tambem fora da vila, se acha um pedestal, com uma cruz, em cujo sítio, em tempo antigo existiu a igreja paroquial de Santo André apóstolo, em paróquia constituída, que era do tempo da primeira fundação da vila, cuja paróquia se extinguiu, e a igreja se demoliu e somente existe o dito pedestal e um marco do adro ainda posto no seu lugar. Esta igreja era do Convento do Lorvão e dela cobrava os frutos. Junto dalí está um sítio chamado Bribau em que há alguns moradores por razão dos engenhos que alí estão. Os dízimos deste sítio eram da mesma igreja por estar o tal sítio na freguesia dela. Depois de extinta a igreja e a paróquia se uniram aos dízimos da igreja do lugar da Boidobra, distante dalí meia légua, por esta ser tambem, do mesmo convento e dela cobrar frutos e assim o dito convento cobra juntamente uns e outros dízimos. Para a mesma igreja da Boidobra foi levada a igreja de Santo André, orago da dita igreja. Porem, os moradores do dito sítio do Bribau são fregueses da igreja de S. Pedro desta vila por posse que disto teem, depois que a dita igreja foi demolida.

8º.

Os moradores desta vila recolhem, em grande abundância, vinhos que são excelentes, na qualidade; fruta de todas as castas que são deliciosas dos muitos e ameníssimos pomares que estão por baixo da vila, em pouca distância e, como a vila está em lugar mais alto donde os descobre, é a vista que as casas teem notavelmente agradável quando eles estão floridos ou povoados de folha e fruto; muito milho grosso e meúdo, feijões de todas as castas e trigo. Tudo isto produzem as terras, sem que seja necessário estercá-las, porque as águas que saem dos engenhos, adubadas com os azeites e mais materiaes deles, engrossam notavelmente as mesmas terras de sorte que dão tão copiosos frutos. Recolhem mais castanha, em abundância, dos muitos soutos que há. O azeite é em menos quantidade que os outros frutos e não basta para a vila, principal­mente, tendo ele como tem tanto consumo na fábrica dos panos. Há, também, dentro da vila muitos quintaes que produzem muita abundância de hortaliça e são regados com água que vem da serra, por canos, como é abaixo relatado, ao número 18.

9º.

Tem esta vila juiz de fora, posto por El Rei, e Câmara. Tem tambem juiz de fora dos órfãos, ministro de vara branca, posto por El Rei. Há alvará para que, alternadamente, sirva um na falta do outro a ocupação dele.

Não é couto esta vila e só consta que El Rei D. Afonso 5º por duas cartas e provisôes suas, uma de dez e outra de 20 de Abril de 1480, coutou as matas desta vila, proibindo matar nelas porcos e, determinando que os transgressores, alem de perderem a besta e armadilha, pagassem mil reis, por cada vez, para um João Gomes da Silva, fidalgo da sua casa, e declarou que aqui se não compreen­diam fidalgos ou outras pessoas que os matassem com montarias. Outrossim mandou que nenhuma pessoa tirasse nem tomasse os Corços dos Açores que estavam na Serra da Estrela e termo da Covilhã, salvo depois do dia de S. João Baptista por diante, sob pena de quinhentos reis para o dito João Gomes da Silva.

10º.

Há tradição e se manifesta dos seus Diálogos, no Diálogo dos Verdadeiros e Falsos Bens, cap.18. que desta vila foi natural o Padre Frei Heitor Pinto, reli­gioso da Ordem de S. Jerónimo, varão bem conhecido e insigne nas letras. Nos seus primeiros anos estudou Direito Civil nas Universidades de Salamanca e Coimbra. Depois disto, deixando este estudo, se deu ao da Filosofia e Teologia e nesta foi Doutor graduado e lente da Sagrada Escritura, na Universidade de Coimbra, em 1576. Estudou tambem as línguas grega e hebraica. Toda esta notícia de seus estudos declara ele nos proémios e dedicatórias de seus Comentários a Izaías e Daniel. Escreveu Comentários a Izaías, Daniel, Ezequiel, La­mentações de Jeremias e a Nahum, na língua latina, os quais são doutíssimos e conte em grande erudição e estilo. Tambem escreveu na língua portuguesa uns Diálogos que são bem celebrados. Floreceu pelos anos de 1550 em diante como das suas obras se manifesta.

Tambem desta vila foi natural o Padre Frei Manuel de Azevedo, religioso de S. Francisco da Observância, cuja naturalidade ele mesmo confessa em um depoimento que deu em um instrumento que há na casa de Bernardo de Macedo desta vila. Foi grande religioso e excelente prelado e exemplar nas virtudes, por razão das quais foi tido por santo. Vinte anos eram passados depois de falecer quando, sendo aberta a sua sepultura, foi achado incorrupto e inteiro no corpo e no hábito com que foi sepultado. Está sepultado no Convento de S. Francisco da Observância desta vila e faleceu no ano de 1599. Tudo declara o Padre Esperança na sua Crónica, 4, c. 16, nº 4.

Tambem desta vila era natural o Padre Baltazar ou Gaspar Pais, da Companhia de Jesus, o qual padeceu martírio em ódio a nossa Santa Fé Católica, nas Conquistas. Está o seu retrato no Convento de S. Roque de Lisboa Occidental. Tambem desta vila era natural D. Maria do Sacramento da Esperança, da Vila de Abrantes, a qual ainda quando vivia no século, em casa de seu pai Rui Pereira Coutinho, pessoa principal desta vila, exercitava com excesso, o rigor da penitência, não dormindo em cama, e fazendo outros actos de grande virtude. Na religião cultivou em grande maneira as virtudes até que faleceu no ano passado de 1733, com gravíssima opinião.

Tambem se conta que desta vila foi natural um religioso da Ordem da Santíssima Trindade, chamado Frei Pedro, o qual nas Conqistas padeceu martírio em ódio da Fé Católica.

Tambem nesta vila nasceu D. Cristovão de Castro, filho natural de D. Rodrigo de Castro, chamado de Monsanto e meio irmão de D. Joana de Castro e de D.  Isabel de Castro, relatadas acima, ao número 6. Foi prior das igrejas de Santa Maria e de S. Martinho desta vila, depois foi capelão mór da princesa D. Maria, filha de El Rei D. João 3º. e ultimamente foi bispo deste bispado da Guarda. Faleceu nesta vila e foi sepultado na igreja de S.Francisco dos Observantes, na capela dos Castros, fundada por sua irmã a dita D. Isabel de Castro, relatada acima ao dito número 6. Fundou nesta vila umas casas nobres, sitas perto da igreja de Santa Maria que hoje são de Gregório Tavares da Costa Lobo.


Parte final do capítulo 10º do manuscrito do Padre Pina
(Continua)
Nota dos editores 1) Dias, Luiz Fernando Carvalho, "Frei Heitor Pinto (Novas Achegas para a sua Biografia)", Coimbra, Biblioteca da Universidade, 1952.

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