segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Covilhã - Inquéritos à Indústria dos Lanifícios XII-X


Inquérito Social - X

Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.

Capítulo IV
 A estabilidade (continuação)
 
 
 
 
Capítulo V
Propriedade
 
      Dividimos este capítulo em duas secções: a propriedade da casa de habitação e a propriedade das terras.
      Quanto à propriedade da casa de habitação temos a seguinte estatística:
 
  
      Castanheira de Pera aparece-nos, pois, como o grémio onde o operário se mantém ainda proprietário. Gouveia vem a seguir e depois a Covilhã. O Norte e o Sul aparecem em último lugar. Esta estatística refere-se mesmo aos operários solteiros que vivem debaixo do pátrio poder mas, cuja casa pertence aos pais.
      Em Castanheira de Pera os operários constroem pouco a pouco a sua casa, pagando juros e amortisando aquilo que pediram emprestado para a fazer. Em Gouveia e na Covilhã a mesma tendência se verifica. Cebolais é, dentro da área do Grémio da Covilhã, a terra onde predomina mais a casa própria.
      A Gouveia, a Parada de Gonta, a Melo e a Portodinho cabe a primazia das terras onde os operários têm a sua habitação própria; Alvoco da Serra vem logo a seguir. Gouveia ocupa o último lugar.
      No grémio do Sul – em Alenquer, Portalegre e Arrentela são muito poucos os operários proprietários da sua casa de habitação; Alhandra, Vila Franca e Coimbra podem incluir-se num grupo médio – em que a casa própria se equipara, em média, à casa arrendada; Minde, em 55 operários, 41 têm habitação própria e, em Mação, todos a possuem. Lisboa pode considerar-se como o centro onde a proletarisação é máxima, onde os operários vivem todos em casas arrendadas.
      No grémio do Norte – o Porto equipara-se a Lisboa. Nos outros centros deste grémio, as casas próprias e arrendadas quase se alternam, predominando sempre as arrendadas com terras à volta, para cultivo.
      É frequente encontrar em alguns grémios, operários de lanifícios que são, ao mesmo tempo, operários de campo; ou porque o trabalho na Indústria é inconstante; ou porque possuem terras próprias; ou porque a família se reparte entre as lides da terra e da fábrica, cultivando terras de outrém, por conta própria – ou, ainda, porque o tear manual é uma espécie de distração do trabalho do campo e auxílio para as estações em que este é diminuto.
      Agora vamos referir os operários possuidores de terras:
 
                  
             Por este pequeno resumo pode verificar-se qual a propriedade rústica em poder dos operários e, ao mesmo tempo, concluir que são estes aqueles que fazem da indústria e da agricultura, o seu modo de vida. Temos assim que em Portugal 16% dos operários de lanifícios conservam ainda uma parcela de terra que, em horas aflitas e de crise, pode servir de auxílio às crises inúmeras porque passa a sua profissão. Gouveia e Castanheira de Pera continuam a estar à frente da estatística.
                  A estatística das casas pode servir de base a uma política das casas económicas, conforme a necessidade dos respectivos centros. No capítulo dedicado ao modo de existência, voltaremos a este assunto e veremos a que pode levar a estatística das rendas de casa. Disse atrás que em certas regiões os operários costumavam construir casas para sua habitação, recebendo da usura o auxílio económico, hipotecendo-lhe depois a casa como garantia do empréstimo e dos juros respectivos. O que é a usura e os seus métodos é escusado dizê-lo aqui.
                  Cremos que constituído um fundo de assistência para casas, a juro módico, muitos operários construiriam por si as suas casas, com a dupla vantagem de retirá-los à influência da usura e de lhes dar possibilidades de construirem casas para as necessidades da sua família. Uma política de casas económicas, viria a resolver o problema da habitação. Podia suprir-se o auxílio do Estado, com o de uma Caixa que os ajudasse; sendo os operários a construí-las, podia atender-se melhor às necessidades da família. 
 

Nota dos editores - Como inserimos as tabelas segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito.
  
As Publicações do Blogue:
Capítulos anteriores do Inquérito Social:
Inquéritos III - I
Inquéritos IV - II
Inquéritos V - III
Inquéritos VI - IV
Inquéritos X - VIII
Inquéritos XI - IX

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