segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Covilhã - Inquéritos à Indústria dos Lanifícios VIII-VI


  Inquérito Social - VI



Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.

 
Mão de Obra Estrangeira: 

Empregados espanhóis:
Grémio de Castanheira de Pera -  1
Grémio do Sul ………………. -  3

            Operários espanhóis:
                        Grémio da Covilhã   ………… -  3
                        Grémio do Sul ……………….  -  4 

            Empregados alemães:
                        Grémio do Sul ……………….  -  1 

            Empregados franceses:
                        Grémio do Sul ……………….  – 3 

            Empregados ingleses:
                        Grémio do Sul ……………….. – 1           

            O Grémio do Sul é aquele que aproveita mais a mão de obra estrangeira: os mestres estrangeiros estão distribuídos pelas fábricas de Arrentela, M. Carp, Portalegre e Vila Franca de Xira.
A presente estatística vem demonstrar que a indústria nacional se emancipou há muito da direcção e da mão de obra estrangeira e que os nossos empregados e operários são muito aptos no desempenho das suas profissões. 

Profissão dos Ascendentes: 

            Vamos apresentar agora a estatística dos operários de lanifícios divididos conforme a profissão dos seus ascendentes em primeiro grau.
 

             Pelo presente mapa se vê que não basta atender à naturalidade para se averiguar qual a origem da população dos lanifícios; a ascendência é essencial como índice para o estudo da origem da população. Conhecido o critério para estudar a origem da população dos lanifícios segue-se tratar da relação existente entre a população industrial e a população agrícola, ou seja, da migração do campo para a fábrica.
Na Covilhã e em Gouveia, como principais centros da indústria do país predomina entre a população fabril um número elevado de operários nascidos e criados no seio da indústria. Os seus pais e, por conseguinte, a sua família fazem da indústria modo de vida. Na Covilhã, é acentuado o número destes operários, quer entre os masculinos quer entre os femininos: há assim dois mil cento e onze homens e setecentas e trinta e três mulheres, cujos ascendentes já trabalharam nos lanificios, ao passo que aqueles cujos ascendentes trabalharam na agricultura são simplesmente novecentos e treze homens e trezentas e noventa e uma mulheres. Em Gouveia o número das mulheres com ascendentes nos lanificios é menor do que o daquelas cujos ascendentes trabalharam na  agricultura; temos assim neste grémio duzentas e noventa mulheres com ascendentes na ­indústria e trezentas e cinquenta e uma com ascendentes na agricultura.
Em Castanheira de Pera predomina tambem a agricultura como fonte da população fabril, enquanto que nos grémios do Sul e do Norte a população das fábricas é vulgarmente constítuida por operários cujos ascendentes trabalharam em mesteres variados.
O facto de em Gouveia o maior número de mulheres ser retirado à vida do campo, vem demonstrar que as famílias operárias não fornecem o pessoal feminino em proporção com a sua natalidade. Explica-se isto pela disseminação da indústria neste grémio e com a falta de preparação técnica das mulheres para estes serviços, pelo uso de uma mão de obra mista, repartida entre familias em que as mulheres trabalham no campo e os rapazes na fábrica. Daqui provém que para a fábrica vão só as filhas dos assalariados do campo.
No grémio da Covilhã a população industrial, com raízes agrícolas provém, sobretudo, das aldeias e quintas do termo, e dos pequenos centros industriais deste grémio, como o Tortozendo, Teixoso, Unhais da Serra e Cebolais.
A população mista, isto é, a formada por aquelas famílias que repartem os seus membros pelo trabalho da indústria e do campo, se tem muitas vantagens sociais como a melhoria dos salários, a melhoria das condições de vida nos meios rurais, tem também as suas desvantagens v. g. a projecção da moral inferior da fábrica na moral mais rígi­da do campo, a deformação da mentalidade espiritual e religiosa da gente que trabalha na agricultura, pela influência da mentalidade da fábrica; possibilidade de alastrar no campo, com o auxílio e direcção dos operários das fábricas, certa mentalidade subversiva: diminuição de educação e do sentido da hierarquia que os campos ferverosamente guardaram e que a fábrica veio a degenerar.
A estatística apresentada, comparada com as listas das naturalidades dos operários (a publicar no próximo episódio) com a consulta dos boletins de inquérito social, pode indicar aos dirigentes, em época de crise aguda qual a atitude a tomar com esta mão-de-obra, constituída por alguns membros de família cuja principal actividade é a agricultura. Obrigando-os a voltar ao campo e às suas primitivas actividades, melhor se pode cuidar daquela população que vive exclusivamente da indústria para quem esta representa a única fonte de salário.
           Entre as causas de migração do campo para a cidade, já referimos a melhoria de salário; tornamos a referir-nos a ela para salientar a formidável influência que o luxo daquelas raparigas, oriundas do campo, que trabalham nas fábricas, exerce naquelas que trabalham exclusivamente no amanho das terras e que é um poderoso incentivo para as obrigar a abandonar mais tarde ou mais cedo a sua condição. 

Nota dos editores - Como inserimos uma tabela segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito.  

Capítulos anteriores:
Inquéritos III - I
Inquéritos IV - II
Inquéritos V - III
Inquéritos VI - IV
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/08/covilha-inqueritos-industria-dos_2.html
Inquéritos VII - V
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-inqueritos-industria-dos.html

Sem comentários:

Enviar um comentário