domingo, 18 de setembro de 2011

Covilhã - Invasões VI

Continua a apresentação de testemunhas neste auto de devassa, para que sejam castigados os moradores da Covilhã que se passaram para o lado estrangeiro na invasão franco-espanhola de 1762


Artilheiros em combate, carregando um canhão

     10.º Estêvão Pereira das Neves, solteiro, filho que ficou de Francisco Pereira, que vive de sua fazenda, natural e morador na Boidobra, de 24 anos. Os presos ficaram em Castelo Branco à ordem do corregedor.

11.º Francisco da Cruz, lavrador, natural do Freixial, termo do Fundão, morador na Boidobra.

12.º Bernardo Cardona, solteiro, filho de Maria da Cunha, mulher de Luis Rodrigues Jangim, filho espúrio, natural e morador na Boidobra, de 18 anos.

13.º Filipe Mendes, jornaleiro, morador e natural da Boidobra, de 40 anos.

14.º João Francisco Monteiro, oficial de carda, natural e morador na Covilhã, de 62 anos.

Pacheco mandou prender ao Fundão a António Rodrigues Carqueija o moço, «a quem tinha o dito Pacheco concebido um grande ódio por não poder aturar o dito Carqueija semelhantes governos e ter tomado umas pistolas ao comandante francês».

15.º Maria da Costa Cecília, viúva de Francisco Monteiro, oficial de carda, natural e moradora na Covilhã, de 50 anos, diz que quase todos os moradores se ausentaram uns para as serras e outros para outras partes, por não darem sujeição ao inimigo.

Pacheco «mandou lançar vários pregões com pena de morte, que todos os moradores levassem os seus panos ao Convento de S. Francisco desta Vila aonde se ajuntou um grande número deles que o inimigo levou».

16.º José Rosado, pizoeiro, natural e morador na Covilhã, de 50 anos. O Pacheco e os seus «entraram logo a fazer mil insolências, vexando o povo querendo sujeitá-lo ao Domínio del Rei de Castela, mandar lançar pregões a cada instante, prendendo e fazendo outras cousas mais querendo por força sujeitar tudo ao dito domínio e fazendo-se absolutos em todas as suas operações e acções e na ocasião em que ainda aqui se achava o inimigo mandou o dito Pacheco lançar pregões por toda esta vila para que todos os moradores com pena de morte, casas queimadas e confiscações de bens levassem os seus panos e baetas ao Convento de S. Francisco aonde se ajuntou grande número deles que o inimigo levou.»

Ostentando-se assim (o Pacheco e os outros) vassalos del Rei de Cas­tela e negando a sujeição ao nosso Rei Fidelíssimo e senhar natural, tanto assim que estando, ele testemunha, em um dos dias em que na dita vila estava ainda o inimigo, de baixo da varanda das casas de seu irmão João Rodrigues Delgado Rayo, chegou ali o Barroca cheio de alegria e prazer dizendo que, estavam já todos castelhanos, dizendo mais = Viva o Senhor D. Carlos e nós todos somos castelhanos = e levando consigo ao dito João Rodrigues Delgado ao Convento de S. Francisco, o levou consigo o ini­migo para o forte Fiel onde morreu. António Rebelo andou com os solda­dos a ensinar-lhes as casas dos moradores da vila. Este Rebelo foi à vila do Fundão, e fez-se acompanhar por António Delgado Borralho, quinteiro, mas ficou próximo, induzindo-o a ir àquela diligência pelo que foi preso e mandado para o Limoeiro de Lisboa. Mas está inocente por ser rústico e simples.

Conclusão = 1 de Março de 1763.

Despacho: Mandando prender por incursos por inconfidência aos Réus Filipe Pacheco de Aragão, seu criado Boaventura José, António da Fon­seca Barroca, Manuel António de Figueiredo, António Rebelo o mouco, António Francisco Leitão, o fandango, Francisco Rodrigues Salgado e seu irmão André Malaca, desta vila, para se remeterem ao Juízo da Incon­fidência. Covilhã. 1 de Março de 1763.

Termo da data, 1 de Março.

17.º João Leitão Namorado, oficial de tosador, natural e morador na Covilhã, de 40 anos.

Tendo fugido no dia 23, voltou no dia 24 e viu que Filipe Pacheco de Aragão, da mesma vila estava com os ditos inimigos no Terreiro da Praça pública ou pelourinho dela, oferecendo ao Comandante inimigo e seus ofi­ciais uma garrafa de vinho e biscoitos; em sua companhia estava também Boaventura José, seu criado.

Esta testemunha foi mandada prender por não querer sujeitar-se, sendo incumbidos da diligência o Rebelo, José da Costa Aleixo e João da Costa Lei­tão que a foram procurar a uma sua vinha. José Rato, o folião, de alcunha, ensinou aos soldados inimigos as casas da vila onde deviam comer; e António Fernandes Rato disse aos habitantes da vila que não fugissem que o inimigo não havia de fazer mal algum e que havia de denunciar os lugares para onde fugiam. O mesmo Rato foi com um soldado francês à serra, ao Sitio das Cales de St.º António, buscar as suas duas filhas, mas o Soldado não se quis aproximar com medo que o matassem os outros moradores que ali estavam.

18.º Manuel Antunes, solteiro, filho de João Antunes, natural e morador na Boidobra, confirmou o seu depoimento.

19.º José da Costa Aleixo, oficial de tecelão, natural e morador na Covilhã, de 32 anos. Quando o Rebelo o quis levar a prender o Namorado, fugiu para a Serra.

Ficou preso. Tem à margem que morreu na prisão.

20.º  António Rebelo, o mouco - pomareiro no pomar da Ponte desta vila natural e morador nela, preso na Cadeia, de 58 anos.

Diz que por fim fugiu para Alpedrinha e Castelo Novo. Filipe Pacheco estava num pátio ao Pelourinho, nas casas do Dr. Filipe de Macedo. Fora ao Fundão mas entregara a carta a Estêvão, seu criado, filho do Ranito, que a tornou a trazer para esta vila e a entregou de novo ao Pacheco.

Assentada = 3 de Março de 1763.

21.º  José de Matos, que vive de sua fazenda, natural do Tortosendo e  morador na Boidobra, de 35 anos.

22.º  Luis Caetano Coelho, oficial de sapateiro, da Covllhã, de 44 anos.

Assentada = 4 de Março.

23.º Josefa Maria d'Olíveira, mulher de Luís Caetano Coelho, de 45 anos.

24.º Maria de S. João, mulher de António Rodrigues Doutor, oficial de carda, natural e morador na Covilhã, de 45 anos.

«para que os fabricantes dos lanifícios levassem os seus panos e baetas ao Convento de S. Francisco».

25.º António José de Gouveia, oficial de tecelão, natural e morador na Covilhã, de 34 anos.

26.º José Rodrigues Padez, oficial de carda, natural e morador na Covilhã, de 47 anos.

O Barroca disse-lhe a ele e a seu cunhado Gouveia, (a derradeira tes­temunha): = oh, já vocês se vêm recolhendo, a culpa teve quem cá lhe não deitou o fogo às casas =

     27.º O ajudante Luis Agostinho, natural e morador na Covilhã, de 30 anos.

Entre outras coisas disse que ouviu dizer que José da Cruz Rato, o folião de alcunha, andara ensinando aos soldados do inimigo as casas de alguns moradores desta vila entre os quais de João da Silva de Figueiredo Fragoso e de Luís Caetano Coelho e de João Rodrigues sapateiro de onde lhes faltou muitas coisas.

28.º Manuel Roman, oficial de tecelão, natural e morador nesta vila, de 43 anos.

29.º  Simão Martins de Morais, oficial de tecelão, natural e morador na Covilhã, de 34 anos.

Ouviu dizer ao Pacheco que não pagava a António Francisco Fan­dango por não ter aviado o negócio a que o tinha mandado à Guarda para o inimigo lhe mandar guarnição. Sabe por o ouvir dizer a Maria Teresa, assistente em casa do Padre João Nunes desta vila, que à sua porta chegaram alguns soldados inimigos a quem foi a ensinar João Sal­vador, filho duma Rita de Gouveia e andaram comendo por várias casas e levando consigo outros para assinarem uma escritura em que obrigaram a assinar algumas pessoas, obrigando-as por este modo a pagarem certa quantia em dinheiro em certo tempo.

30.º  João Baptista Rebelo, vive de sua fazenda, natural e morador nesta vila, de 60 anos.

Os soldados franceses e espanhóis foram a sua casa, obrigando a ensinar-lha um Lino Martins, tecelão, e um Manuel Ferreira, cardador, desta vila, como presenciaram Francisco Mendes Catrapam e Manuel Leitão Camelo, tecelão.

Assentada = 5 de Março de 1763.

31.º  Manuel Leitão Camelo, natural e morador na Covilhã, de 60 anos, ofIcial de tecelão.

Trabalha em casa de João Baptista Rebelo, no seu ofício. O Rebelo também vendia tabaco, vinho e aguardente.

O inimigo dizia que ia dali ao Fundão, a Castelo Branco e a Lisboa.

   32.º  Manuel da Silva, oficial de sapateiro, natural e morador na Covilhã, de 60 anos. 

     33.º  Francisco António Correia, oficial de serralheiro, natural e morador na Covilhã, de 50 anos.

   34.º João Lopes de Morais, solteiro, filho que ficou de Manuel Lopes de Morais, oficial de tecelão, natural e morador na Covilhã, de 22 anos.

Certidão - de Manuel Coelho d' Almeida conforme este treslado da devassa de inconfidência vai escrito em 37 meias folhas de papel e com esta finda, etc. 

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