domingo, 29 de maio de 2011

Covilhã - Memoralistas ou Monografistas I

Memoralistas ou monografistas da Covilhã

Convém enumerar os autores de monografias da Covilhã, os cabouqueiros da história local, aqueles de quem mais ou menos recebi o encargo de continuá-la, render-lhes homenagem pelo que registaram para o futuro, dos altos e baixos da Covilhã, das suas origens, das horas de glória e das lágrimas, dos feitos heróicos e de generosidade e até das misérias dos seus filhos, de tudo aquilo que constitui hoje o escrínio histórico deste organismo vivo que é a cidade, constituído actualmente por todos nós, como ontem foi pelos nossos avós e amanhã será pelos nossos filhos.
Não ainda em monografia, mas como simples descrição, registo a primeira imagem da Covilhã em forma literária. Cabe ao nosso Frei Heitor Pinto (1), o escritor português mais divulgado e com mais edições no século XVI. Trata-se de uma imagem enternecida, como que uma saudade de peregrino a adivinhar exílios, muito embora a abundância dos adjectivos desmereça da evocação:

 “ … Inexpugnável por fortes e altos muros, situada num lugar alto e desabafado e de singular vista, entre duas frescas e perenais ribeiras, com a infinidade de frias e excelentes fontes e cercada de deleitosos e frutíferos arvoredos. […] “ (2)



O século XVII legou-nos pelo menos duas notícias monográficas da Covilhã, uma de 1613, no Tombo dos bens do concelho e outra no “Agiológio Lusitano” de Jorge Cardoso.
Para a Academia Real da História, no século XVIII, destinada ao primeiro dicionário do Padre Luís Cardoso, escreveu o prior de São Silvestre, Manuel Cabral de Pina, a monografia mais completa dessa época, que constitui um trabalho sério, no sentido de que é possível hoje referenciar quase todas as suas fontes. O Padre Pina, que frequentou um ano a Universidade de Coimbra, era natural do concelho de Fornos de Algodres e colheu muitos elementos para a sua monografia nas cópias do Arquivo da Torre do Tombo existentes na Câmara e nos livros paroquiais.
Ainda no século XVIII a Covilhã conta com mais dois monografistas – ambos anónimos – um, o do manuscrito do Museu de Londres e da cópia deteriorada na Biblioteca Nacional de Lisboa, cujo trabalho reveste bastante interesse sobretudo sob o aspecto industrial, que se encontra publicada segundo a primeira fonte, no volume I dos nossos “Documentos para a História dos Lanifícios” (3); e o outro, o daquela memória do 2º Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso, cujo interesse é diminuto. Também a publiquei no mesmo volume.
No século XVIII há contudo outras monografias focando em primeiro plano a indústria dos lanifícios. Todas as que encontrei, recolhi e deixei publicadas na já referida colectânea.
O século XIX abre com o trabalho do luso-brasileiro, oriundo da Covilhã, Dr. João António de Carvalho Rodrigues da Silva sobre a indústria dos lanifícios. Tivemos oportunidade de publicar uma segunda edição deste curioso estudo na revista “Lanifícios”, no ano de 1955 (4). Continua a série com a memória do Dr. João de Macedo Pereira Forjaz, bastante documentada e com alguns valiosos estudos na imprensa local de dois entusiastas da História da cidade, o Dr. Valério Nunes de Morais e seu sobrinho o Dr. António Mendes Alçada de Morais. Finalmente a fechar a série surgem os “ subsídios para a Monografia da Covilhã “ de Artur de Moura Quintela, muito completa para o seu tempo e ainda não ultrapassada no campo monográfico.
Também no século XIX se dedicou à História da Covilhã, embora que eu saiba nada publicasse, o Visconde Pereira e Cunha, pai do falecido jornalista e académico fundanense Dr. Alfredo da Cunha. O Visconde Pereira e Cunha foi provedor da Santa Casa da nossa terra e autor do “Livro das Heranças”. As Lápides dos Benfeitores da Igreja da Misericórdia, já destruídas, foram também da sua lavra. Porém o trabalho de pesquisa do referido provedor não foi além do fim do século XVII.
No século XX recordo o velho bibliotecário da Covilhã, Nicolau Alberto Ferreira de Almeida e ainda Alberto da Fonseca Oliveira. O primeiro alguma coisa deixou de interesse, também na imprensa local, do muito que sabia e conhecia da história da cidade e sobretudo merece uma palavra de saudade pelo muito que amou e defendeu a Biblioteca Pública Municipal.
O segundo, filho de um professor primário que ensaiou na Covilhã o método de João de Deus, poeta e pedagogo, com o qual se correspondia, forneceu ao Dr. José Leite de Vasconcelos várias notas de achados arqueológicos da região. Foi funcionário da Câmara Municipal e desagravou a cidade num pequeno opúsculo intitulado “Viva a Covilhã“, de uma injustiça que lhe assacou certo pasquim repleto de aleivosias, mentiras e injustiças.


Notas dos Editores – É provável que haja novas monografias, mas nós só temos conhecimento de uma publicada em 1970, na altura do centenário da cidade e reeditada em 1997: Silva, José Aires da, “História da Covilhã”, Covilhã.
1) Luiz Fernando Carvalho Dias publicou em 1953, “Fr.Heitor Pinto (Novas Achegas para a sua biografia)”. 2) Adaptado de Pinto, Frei Heitor, (1843) “Imagem da Vida Cristã”, Tomo II, parte II, fls. 741,742, Lisboa. 3) Esta obra foi publicada pelo investigador em 1956. 4) Revista que era propriedade da FNIL - Federação Nacional dos Industriais de Lanifícios.

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