quarta-feira, 18 de maio de 2011

Covilhã - Lista dos Sentenciados na Inquisição

Lista dos Sentenciados no Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa, Coimbra e Évora, originários ou moradores no antigo termo da Covilhã e nos concelhos limítrofes de Belmonte e Manteigas

A lista que hoje começamos a apresentar teve origem numa pesquisa feita por Luiz Fernando Carvalho Dias sobre os processos da Inquisição existentes no ANTT - Arquivo Nacional da Torre do Tombo relativos aos beirões de origem judaica ligados à indústria de lanifícios, para a sua obra intitulada “ Os Lanifícios na Política Económica do Conde da Ericeira”, publicada no ano de 1954.
A sua investigação baseou-se nas listas publicadas por António Joaquim Moreira relativas aos sentenciados nos tribunais da Inquisição sediados em Lisboa, Coimbra e Évora. Cedo verificou que tais listas eram bastante incompletas, pois não referiam todos os autos que tiveram lugar e, ainda, dos indicados, não constavam todos os sentenciados. A partir dessas listas, recolheu alguns dos elementos identificativos relativos aos indivíduos originários da região que lhe interessava – a Covilhã, Fundão, Belmonte e Manteigas - com o intuito de tomar conhecimento, sobretudo daqueles ligados à indústria de lanifícios.
Quando acabámos a transcrição dos elementos recolhidos pelo investigador, respeitantes a cerca de 300 pessoas, suspendemos o trabalho por não sabermos como se iria fazer a sua divulgação.
Há algum tempo fomos surpreendidos com a notícia de que no endereço electrónico do ANTT estavam disponíveis elementos identificativos dos apanhados nas malhas dos tribunais do Santo Ofício e que até um número apreciável de processos do tribunal de Lisboa estavam já digitalizados e, por isso acessível a sua consulta através da Internet.
Achámos, assim, que era altura de completar este trabalho e, para isso há vários meses prosseguimos a sua pesquisa.
Começámos por confrontar os processos que já possuíamos, com os que estavam referenciados pelo ANTT relativos às localidades que nos interessavam, tendo verificado que o número dos processos subia para cerca de 1100! De seguida passámos a uma cuidadosa recolha dos elementos disponibilizados, primeiramente relativos às 300 pessoas que já dispúnhamos, com a identificação da cota actual relativa a cada processo, nome ou nomes por que cada um era conhecido, idade, profissão, naturalidade e morada, filiação, período de tempo em que decorreu o processo e ainda, relativamente aos indivíduos não pertencentes à comunidade judaica, que também incluímos nesta listagem, acrescentámos o motivo da respectiva acusação. Quanto aos pertencentes à comunidade judaica que faleceram no cárcere ou que foram relaxados (entregues) à justiça secular para sofrerem a pena capital, fizemos essa menção.
Socorremo-nos também da obra de Luís Amaral, (1) quando foi necessário identificar o número de alguns processos da Inquisição de Lisboa, referentes a pessoas que usavam os mesmos nomes.
Depois, consultando os processos digitalizados, na parte relativa à “Genealogia” do acusado, pudemos recolher elementos respeitantes aos membros da sua família que nos ajudaram a completar a identificação de outros parentes processados. Em vários casos conseguimos identificar os nomes dos ascendentes até ao grau mais remoto que foi possível determinar, chegando-se a encontrar várias gerações. É o caso de Martinho da Cunha, parente do escritor Fernando Pessoa, cujas origens se encontram ligadas a Alfaiates, Montemor-o-Velho, Alcaide e Fundão:

Martinho da Cunha ou Martinho da Cunha de Oliveira, x.n., solteiro, de 20 anos, tratante, natural de Idanha-a-Nova e morador no Fundão, filho de Manuel da Cunha ou Manuel da Cunha Pessoa ou Manuel da Cunha Pessoa de Oliveira, mercador, natural de Montemor-o-Velho, do termo de Coimbra e de Leonor da Cunha (1ª mulher), neto paterno de Custódio da Cunha de Oliveira e de Madalena Pessoa ou Madalena Pessoa de Gouveia, bisneto de Martinho de Oliveira e Juliana da Cunha, pais do avô paterno, de Gaspar de Oliveira e Francisca Pessoa, xx. vv., naturais de Montemor-o-Velho, pais da avó paterna, trineto de Brás de Oliveira, pai do bisavô Martinho; de Manuel Pessoa, x.v., pai da bisavó Francisca; e de Miguel Henriques Falcão e de Brites da Cunha, pais da bisavó Juliana, tetraneto de Rodrigo da Cunha, pai da trisavó Brites da Cunha, quinto neto (2) de Pedro da Cunha e Brites do Mercado, pais do tetravô Rodrigo e sexto neto de Luís do Mercado, cavaleiro fidalgo da Casa Real, pai da quinta avó Brites do Mercado. Casou depois com Isabel Nunes Moedas, abjurou em forma em auto público de Coimbra em 6/8/1713, Teve depois novo processo na Inquisição de Lisboa,
PT-TT-TSO/IL/28/8106, de 2/3/1746 a 24/9/1747, relaxado em carne. Era irmão de Diogo Nunes da Cunha Pessoa ou Diogo da Cunha Pessoa.


Se considerarmos os cerca de 250 anos que durou a Inquisição (1536-1773/1821), chega a ser apreciável.
Outra dificuldade com que nos deparámos foi nos casos em que a mesma pessoa contraiu mais que um matrimónio, alguns até quatro, para determinar de que casamento os descendentes provinham, socorrendo-nos de elementos fornecidos por outros processos.
Quanto à indicação dos apelidos optámos por uma grafia moderna. Para isso transformámos, por exemplo os “Roiz” em Rodrigues, já que com frequência e quanto à mesma pessoa aparecem, indistintamente, com qualquer dos nomes. Também relativamente às pessoas do sexo feminino que utilizavam no feminino o seu apelido, apresentamo-lo no masculino. (Exemplo: Leonor Pinheira será referenciada como Leonor Pinheiro).  
     Na exposição desta listagem seguimos uma ordem cronológica, porque facilita a identificação mais rápida dos membros da mesma família, já que estes não usam sempre o mesmo apelido. Constatamos que muitos dos sobrenomes aqui nomeados ainda hoje se mantêm em familiares originários desta região que talvez estejam interessados em estudar a sua genealogia.
     Na lista que iremos publicar, o texto que se encontra em itálico foi o que por nós foi acrescentado ao fruto da pesquisa de Luiz Fernando Carvalho Dias.
     Esperamos que o trabalho que agora apresentamos venha a suscitar interesse, até mesmo aos descendentes daqueles que aparecem referenciados nas listas e que sofreram os horrores da Inquisição.

1) “Índices dos Processos do Tribunal da Inquisição de Lisboa”, Edição “Guarda-Mor – Edição de Publicações Multimédia, Lda”, de 2009, (ISBN 978-989-96088-2-5)
2) Elementos tirados da internet: a) PT-TT-TSO; b) do texto intitulado “Fernando Pessoa – Poeta e Pensador tem origem em Alfaiates”, de José António Vaz; e c) do portal “Geneall.pt”, base de dados, sobre o Estudo da Árvore Genealógica do poeta e escritor Fernando Pessoa.


As Publicações do Blogue:


Estatística baseada nesta lista dos sentenciados na Inquisição:

http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html

2 comentários:

  1. Belíssimo trabalho! A equipa está de Parabéns! e deram a sequência devida a um intenso e laborioso trabalho do Dr.Luiz Fernando de Carvalho Dias!
    Onde ele se encontra estará orgulhoso deste trabalho e sabendo que não foi em vão! Era ISTO que el queria realizado!
    meus PARABÉNS!

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    1. Muito obrigado pelo seu simpático comentário, que manifesta ter sido feito por alguém que decerto privou com o nosso familiar.

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